Em tempo de choro e lamento- Bispo Paulo Lockmann

sábado, 12 de fevereiro de 2011


Em tempo de choro e lamento
Bispo Paulo Lockmann
Disseram-me: Os restantes, que não foram levados para o exílio e se acham
lá na província, estão em grande miséria e desprezo; os muros de Jerusalém
estão derribados, e as suas portas, queimadas. Tendo eu ouvido estas
palavras, assentei-me, e chorei, e lamentei por alguns dias; e estive
jejuando e orando perante o Deus dos céus. (Ne 1.3-4).


1) Em tempo de chorar.
Sempre que leio estes versos de Neemias, sinto também uma desolação. Isso porque fico tomado pela tristeza que o homem de Deus sentiu por seu povo, por sua nação, por sua cidade: Jerusalém.

O quadro descrito por Hanani a Neemias era: o povo está na miséria e depressão, os muros de Jerusalém estão derrubados e suas portas queimadas. Todas as memórias que recebera de seu povo, sua cidade, dos tempos bons, é jogada por terra diante das últimas notícias.
Fomos todos tomados de tal desolação com o impacto que a tragédia da enchente e avalanche na região serrana do Rio de Janeiro nos trouxe. Ao percorrer a maior parte das áreas afetadas, fui tomado deste sentimento de Neemias, e chorei. Ao saber da morte do irmão Dario e sua esposa, fundadores da igreja de Cuiabá, ao sentar e ouvir da Luciana, secretária da Escola de Missões, de como morreram seu pai e sua mãe nesta tragédia, fui tomado de profunda tristeza e choro. Estes tantos outros relatos que ouvi como a descrição do Pr. Márcio, da 5ª RE, de como perdeu seu filho, e como foi difícil encontrar o corpo do menino. Diante de tudo isso, em meio a tanta dor e sofrimento, ouvi destas e de tantas outras pessoas que perderam muito ou tudo, palavras de coragem e fé, fui transmitir consolação e fui consolado com elas.
Nossos esforços têm sido em diminuir a dor e as perdas destas pessoas. Registro aqui a solidariedade dos metodistas, de todo o Brasil, e já muitos do exterior. Dos EUA à Coreia, há manifestações e ajudas para a reconstrução.
2) Encontrando Deus em momento de trevas e de dor.
Tenho aprendido muito sobre como enfrentar momentos de total ausência de perspectivas e/ou muita dor, primeiro com a Palavra de Deus.

[Ao mestre de canto. Salmo de Davi] Esperei confiantemente pelo SENHOR; ele se inclinou para mim e me ouviu quando clamei por socorro. Tirou-me de um poço de perdição, de um tremedal de lama; colocou-me os pés sobre uma rocha e me firmou os passos. E me pôs nos lábios um novo cântico, um hino de louvor ao nosso Deus; muitos verão essas coisas, temerão e confiarão no SENHOR. (Sl 40.1-3).
Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações,
sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança.
Ora, a perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e 
íntegros, em nada deficientes. (Tg 1.2-4).



Mas também com diversos autores cristãos. Kathryn Kuhlmann, em um dos seus livros, ensina: “A vida pode triturar o ser humano e fazê-lo brilhar, tudo depende do material de que este ser humano é feito. Todo homem ou mulher pode fazer que qualquer calamidade em sua vida seja transformada para a glória de Deus e redunde para o seu bem, e isso vai depender da sua atitude em relação a essa calamidade. Certamente, todos temos problemas, todos temos nossas aflições, todos temos prisões de diversos tipos. Algumas vezes, é difícil encontrar graça em nossas prisões, mas Deus lhe dará essa graça. Ele lhe dará força. Tudo que é necessário o que precisa ser feito é pedi-la ” (Kuhlmann, K - O melhor de Kathryn Kuhlmann. São Paulo: The Way Books, 2006.)

A Igreja Primitiva experimentou devastação trazida pela perseguição. A História da Igreja é uma história de muitas vitórias, mas todas acompanhadas de muitas lágrimas. Não dá para acompanhar a caminhada do povo de Deus, sem nos defrontarmos com as lágrimas e dor que vivenciamos neste momento, afinal foi Jesus quem advertiu:
Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo,
Passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo. (Jo.16.33).

3) Nosso ministério de consolação, reconstrução e esperança.
Retorno ao testemunho de Neemias. Ele não se limitou a chorar a sorte de seu povo, antes se sentiu chamado:

1) A ir aonde o povo sofrido estava.
Disse-me o rei: Que me pedes agora? Então, orei ao Deus dos céus 
e disse ao rei: se é do agrado do rei, e se o teu servo acha mercê 
em tua presença, peço-te que me envies a Judá, à cidade dos
sepulcros de meus pais, para que eu a reedifique.(Ne 2.4-5).

2) Avaliou a situação em que estavam e o estado da cidade.
Cheguei a Jerusalém, onde estive três dias. Então, à noite, me levantei, e uns poucos
homens, comigo; não declarei a ninguém o que o meu Deus me pusera no coração
para eu fazer em Jerusalém. Não havia comigo animal algum, senão o que eu 
montava. De noite, saí pela Porta do Vale, para o lado da Fonte do Dragão e
para a Porta do Monturo e contemplei os muros de Jerusalém, que estavam
assolados, cujas portas tinham sido consumidas pelo fogo. Passei à Porta
da Fonte e ao açude do rei; mas não havia lugar por onde passasse o
animal que eu montava. Subi à noite pelo ribeiro e contemplei ainda 
os muros;voltei, entrei pela Porta do Vale e tornei para casa. (Ne 2.11-15).

3) E se dispôs a reconstruir.
Então, lhes disse: Estais vendo a miséria em que estamos, Jerusalém 
assolada,e as suas portas, queimadas; vinde, pois, reedifiquemos os
muros de Jerusalém e deixemos de ser opróbrio. E lhes declarei como 
a boa mão do meu Deus estivera comigo e também as palavras que o
rei me falara. Então, disseram: Disponhamo-nos e edifiquemos. 
E fortaleceram as mãos para a boa obra. (Ne 2. 17-18).

Sim, nossa disposição deve ser a mesma de Neemias, contagiar o povo, Deus não nos quer deprimidos, mas confiando nEle, orando e pondo as mãos à obra, porque a “boa mão de Deus vai estar conosco”.
Davi nos dá uma lição de fé e coragem num momento como este. Lembram? Os filisteus oprimiam e humilhavam o povo de Israel. Tinham o maior guerreiro do mundo, a ponto de os grandes guerreiros de Israel se intimidarem, tendo medo de enfrentar Golias e seu exército. Mas Davi acreditava tão profundamente no poder de Deus, que um gigante não podia intimidá-lo. Davi caminhou em direção a Golias, em nome do Senhor dos Exércitos. E o Senhor lhe deu vitória. Os efeitos da tragédia são o nosso grande Golias, mas, novamente, o povo de Deus que crê Senhor dos céus e da terra, unido no amor e compromisso com Jesus Cristo e os que sofrem, vai vencer.

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