"Todos, pois, que somos perfeitos..." (Fp 3.15)

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

"Todos, pois, que somos perfeitos..." (Fp 3.15)





Gostaria neste início de ano de refletir sobre um aspecto do nosso propósito de espalharmos a santidade bíblica por toda a terra; trata-se do tema da perfeição cristã.



Muitos cristãos têm dons espirituais e realizam um bom ministério, mas têm as prioridades desordenadas. O que quero dizer com isso? Trata-se do seguinte: a obra do Evangelho é uma obra que realizamos em nome de Deus, e o sucesso dessa obra/ministério será tanto maior quanto Deus estiver presente. Certo? E como Deus vai se fazer presente, se não vivermos em santidade? Não sabemos todos que Deus detesta a iniquidade?



Paulo havia entendido isso muito bem, e ele conhecia muito bem o Antigo Testamento. E por isso sabia que a falta de progresso na vida do povo e a vitória dos adversários contra o povo de Deus eram frutos do pecado no meio do povo (cf. Is 59.1-2). E sempre que Deus deu vitória ao povo, ela foi precedida de consagração e santificação: "Santificai-vos, porque amanhã o Senhor fará maravilhas no meio de vós". (Js 3.5). Reconheço que santificação é mais do que a pessoal; mas, aqui, é sobre esta que desejo falar.



Paulo buscava a perfeição cristã; Deus deu-lhe o crescimento na santificação. A expressão: "Não que eu já tenha recebido ou obtido a perfeição..." significa que Paulo sabia o que queria, por isso podia avaliar, pois a expressão não ter obtido ou recebido era uma auto-avaliação. Será que nós temos nos avaliado sobre onde nos encontramos no caminho da perfeição cristã? Especialmente ao iniciarmos um novo ano?



Paulo sabia onde havia sido seu ponto de partida - Damasco; sabia aonde queria chegar, e qual era o seu alvo: "... o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus." (Fp 3.14). Assim, podemos concluir que Paulo sabia onde estava entre esses pontos, e tinha consciência de que avançava, crescia a cada dia, pois sua obstinação era grande, como mostram as expressões: "... prossigo para alcançar [...] não julgo havê-lo alcançado; mas uma cousa faço: esquecendo-me das cousas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão..." ( Fp 3.12-13 ).



Você, hoje, pode visualizar seu ponto de partida na carreira da santificação? Sabe claramente qual seu alvo? Está progredindo na direção dele a cada dia? As mesmas perguntas devemos fazer à nossa igreja local. Quando ela começou? Onde ela está em crescimento e santificação? Aonde pretende chegar?



Paulo havia posto a sua vida ministerial em ordem de prioridade correta. Primeiro santificar-se e conhecer a Deus; o ministério tornou-se uma decorrência disso. E Deus foi fazendo as coisas acontecerem em sua vida.



A afirmação deste texto corre nessa direção; todos tenhamos esse sentimento, ou intenção de santificarmo-nos. Se alguém pensa diferente, Deus vai esclarecer, diz Paulo. Mas deixemos ele mesmo nos orientar sobre o tema.







Servindo de modelo - Fp 3.17

Nas cartas paulinas, encontramos, por oito vezes, o apóstolo recomendando que o imitem e que a Igreja ande segundo o modelo que tem nele. Hoje, nós temos dificuldade de identificar esses modelos de Cristianismo. A Igreja Primitiva se fortaleceu em torno desses modelos; Paulo, Barnabé, Pedro, João, Tiago, Maria, Isabel, Febe, Lídia foram servos(as) que em tudo recomendavam o Evangelho, e serviram de modelo para o mundo que os cercava, e, principalmente, para os novos discípulos de Jesus.



Nós, metodistas, podemos dizer que João Wesley é um modelo importante para nós, principalmente, em seu zelo pela proclamação do Evangelho e pelo padrão de uma vida santa.



Tenho ouvido de diversos líderes cristãos: "Eu não sou perfeito; o modelo é Jesus". É certo que o modelo é Jesus, mas o povo, a sociedade em geral, não vê Jesus, vê a Igreja, os cristãos, vê você, vê a mim. Embora seja altamente desafiador, é responsabilidade da Igreja ser modelo para o mundo. O Evangelho, o Senhor Jesus são glorificados ou envergonhados por nosso testemunho.



Paulo se sentia com autoridade para recomendar a si mesmo, pois o poder de Deus era visível em sua vida. Seu Evangelho não era apenas de palavras ou aparência. Vejam o que ele mesmo disse a respeito disso: "A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana e, sim, no poder de Deus."(1Co 2. 4-5).



Não poderíamos escapar desta responsabilidade; precisamos ter vida íntegra e que sirva de modelo ao mundo, principalmente aos novos convertidos.







Os Falsos Cristãos - Fp 3. 18-19

Pela terceira vez, surge advertência quanto aos que estão se desviando da fé ou promovendo dissensão da Igreja.



Aqui, cabe recordar a expressão de Paulo aos Gálatas: "... se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema." (Gl 1.9).



As acusações contra esses "inimigos da Cruz de Cristo" são as seguintes: 1) eram gulosos e se embriagavam, não mantendo um comportamento sóbrio e temperante como recomendava Paulo (cf. 1Tm 3.2,3); 2); eram infamantes do Evangelho, negavam o poder de Cristo por suas práticas; 3) eram materialistas, apegados aos seus próprios interesses materiais.



A primeira questão que surge é: como nós recolhemos este perfil, se o texto é tão breve ?



A resposta surge com algumas considerações. Paulo enfrentou diversos grupos de adversários ou de desviados na fé.



Na verdade, é quase impossível identificar, social e religiosamente, todos esses grupos, embora a exegese bíblica em Paulo tenha produzido muitas teses sobre esse assunto. Porém, baseado nessas pesquisas, eu classifico esses grupos em pelo menos três segmentos: 1) os já citados judaizantes, que estão presentes na Igreja desde o Concílio de Jerusalém. Aliás, eles foram em grande parte a causa desse Concílio, pois queriam obrigar os gentios convertidos a circuncidarem-se e a praticarem diversos ritos judaicos (cf. At 15.1-5), sendo, vários deles, fariseus convertidos, porém diferentes de Paulo, pois continuavam com o fundamentalismo e a intolerância farisaicas. 2) Ao segundo grupo se agregam diferentes movimentos místicos, assim como gnóticos e de religiosidades de sabor mais sofisticado como, tous kúnas, os cães, os quais penetraram no ambiente cristão primitivo através dos novos convertidos, inclusive do judaísmo helênico. Entre estes, estariam os que negavam a ressurreição (cf. 1Co 15.12). Em diferentes círculos, se crê que os classificados como do partido de Cristo (cf. 1Co 1.12) seriam um grupo que enfatizava a revelação direta do Espírito de Cristo, não reconhecendo qualquer outra autoridade; eles seriam os responsáveis pela recusa da autoridade apostólica a Paulo (cf. 1Co 10.3). 3) Surgem os volúveis de todas os matizes, que não levavam a fé a sério e que vinham de diversas experiências religiosas, principalmente, do culto a Dionísio, um dos mais populares cultos da época, cujas celebrações eram verdadeiras orgias de comida, bebida e sexo; estes não tinham muita profundidade na fé e eram comprometidos com práticas imorais, como são as que Paulo está advertindo em Filipenses 3.18,19; mas eles também estão visados na exortação que Paulo fez sobre a Ceia do Senhor, na qual alguns se embriagavam e, quando comiam a Ceia, comiam condenação (cf. 1Co 11.21,28-30).



Assim, o grupo sobre o qual Paulo está falando no texto estudado é o último grupo citado por nós, onde, em nome da liberdade em Cristo, se praticava muita imoralidade, como se pode deduzir da carta aos Coríntios, na qual Paulo desce a pormenores que nos faltam em Filipenses; na verdade, existia muita semelhança entre Corinto e Filipos, pois ambas eram cidades greco-romanas; ambas tinham um forte contingente de tropas romanas; Corinto, por ser um importante porto; Filipos, por ser sede e capital da colônia romana da Macedônia. Em face disso, os problemas enfrentados pelas duas comunidades cristãs eram muito semelhantes.



Esse tipo de "cristão" liberal, sem nenhum compromisso com o Reino de Deus, que não tem uma vida santificada, infelizmente, não foi um problema apenas da Igreja Primitiva, nós continuamos a enfrentar esse tipo de cristãos nominais, que estão, como diz o povo, com um pé na igreja e o outro na imoralidade. Mas não podemos esquecer os que, estando no Igreja, vivem vida dupla; parecem "santos", mas não são.







Bispo Paulo Lockmann


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